domingo, 24 de abril de 2011

O quanto do tanto

Talvez, quem sabe, foi a falta dela que deixou tudo meio assim... Neblina. Quase chuva, pouca visibilidade. Umidade carregada. O carro anda devagar com medo dos postes e dos outros carros. Farol aceso para nada. É uma ida meio perdida, sem estrada, sem rumo, sem guia. É só ida por ir. Sem fim nem finalidade. É a vida finda e a saudade.

Eu sei, mas não tenho tanta certeza (como deveria), que assim como uma rachadura no cimento tende a crescer, eu tendo a ser cimento. E no vento, quando os ventos se juntam para soprar, mais eu viro pedra, ou raiz, ou tronco, ou martelo. Isso, num talvez bem grande, vindo da falta que tenho dela. Tudo porque um dia fui vento e amava indo. Amava rindo. Sorriso de domingo e mate leão. Era uma sorveteria de verão e as bobagens de quem gosta. Era não ir para o jogo e ganhar a aposta. Sonho que se sonha e se adora.

Mas ela era ela, do jeito dela. Moça rara, cobiçada. Pedra filosofal, caixa de pandora, trevo de quatro folhas. Era muito demais para ela só. Muito além do vento leve que era eu, brisa, sopro. Um tanto tudo do mais desejado: Areia no pé do homem afogado; comida para o esfomeado.

Como o imã junta, também separa. Cachoeira derrubando água. Pedra espatifando a água. E a vida se fez água. Às vezes água, ás vezes gelo, às vezes nada. Umidade no ar, nada. Espalhada. E a felicidade era mais vinho do que vinda. E as palpitações eram mais cardíacas do que eufóricas. E as histórias eram histórias; só histórias, pré-histórias, dinossauro, Genesis, big-bang, buraco negro. Memórias. Fantasiosas memórias e saudades de um amor amora (a vida agora é longa e demora).

O resto que resta, hoje, é só um pouco. E o sopro que sobra agora acaba. O que um dia fui eu e a amada, virou navio preso em águas rasas. Sou hoje o cego de bússola na terra dos surdos mudos. E aquela que era de mim, a mesma, mudou. Restou eu e o amargo azedo constante que é saber quão doce foi ela.