terça-feira, 3 de agosto de 2010

Chafé

O chá estava com gosto de café, mas tudo bem. Aprendi que a diferença principal entre o gato e a lebre está no tamanho da fome. Não queria aquele chá. Acabei tomando, já tinha pagado e dado um gole. Não gosto de devolver sanduiche mordido nem bebida tomada, mas tudo bem, não escrevi para falar do chá e sim do que me fez tomar o chá. Eu queria escrever. Para escrever, eu preciso tomar algo que me dê tempo de pensar. A inspiração às vezes é mecânica. O tema era complicado. Queria falar na entrelinha e impressionar o olhar atento, mas acabei me focando mais no chá. Ele havia esfriado muito rápido. Talvez, eu escrevi muito devagar. Falar não falando é trabalhoso.

Enquanto eu escrevia, eu pensava em ser direto de vez e deixar claro logo minhas intenções. Mas dizer o já dito e citar o já citado não vale a pena quando se quer prender a atenção. Aspas serviriam se minha óbvia vontade fosse explícita. O que cabe aqui entre os meus As e Bs é muito mais uma sensação que não cabe no texto. Quero ter entre essas palavras o sentimento que não está nelas, quero o sentimento que será sentido a partir delas. Quero com elas, no olhar atento, daquela pessoa, que eu espero que leia e esteja atenta, que ela veja e entenda que eu quero que ela veja e entenda.

Falei o suficiente. O chá já não presta mais. A conta está paga. Agora é esperar a digestão pra ver se o chá era chá ou se era mesmo um café aguado.

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