segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O sonho de mil humanos - Ou o sonho de Mingau

"Eu vou lhe dar um prato de flores, e no teu ventre vou fazer o meu jardim"
- Prato de Flores , Nação Zumbi
Havia, em um universo muito parecido com este. Com um planeta muito parecido com esse. E continentes muito parecidos com esses, que tinha países, cidades e ruas parecidas com essas. Onde moravam deuses. Estes deuses, de muitas frentes e coalizões, de muitos povos e nações tinham existências atribuladas e confusas, pois tinham muitas coisas pelas quais se preocupar. Não se viam os deuses conversando, a não ser pelo celular. Os deuses tinham descoberto quase tudo o que havia para descobrir : as divindades menores não tinham medo dos pesadelos que se escondiam no escuro do armário, as luzes afastavam os pensamentos que preenchiam as trevas de suas mentes com peças medonhas do subconsciente e quase ninguém sabia explicar o que era amor verdadeiro. Os deuses vendiam suas esferas de dominação por dinheiro. Haviam deuses perdendo lugar para outros na roda que move o mundo. Antigas deidades que controlavam, por exemplo, a sorte, foi substituída pelos deuses das estatísticas e nos bancos haviam deuses da economia. Havia deuses da guerra e da tecnologia. E todos eles trabalhavam para sustentar seus panteões familiares almejando um bom futuro para sua priogene. Neste mundo deuses antigos pediam oferendas nas ruas e pequenos deuses morriam de fome e sede, enquanto outros tinham de mais em função do pouco de muitos outros deuses. Estes deuses tinham animais de estimação. Uns preferiam robôs e aparelhos tecnológicos eletrônicos e digitais, considerados naquele mundo os melhores amigos dos deuses. Mais havia um outro animal que chamava muito a atenção dos deuses por suas características e história: Os humanos. Diferente das máquinas, eles não balançam a cauda quando seus deuses chegam e costumas ser mais temperamentais que as máquinas. Decidem o que querem quando querem e tendem a buscar os deuses somente quando lhes é favorável. Gostam de fugir dos confortos dos seus lares a noite e cantar sob as luzes dos deuses do luar. Por estas características singulares desde o início da deidade. Muitas lendas e histórias surgem para preencher os vazios em suas histórias e as histórias de suas saídas noturnas. Dizem que, por exemplo, cruzar com humanos de cor negra da má sorte e que os deuses da sorte conspiram contra a divindade. Mas há também aqueles que acreditam que o homem sabe caminhar entre os vários mundos da instância divina, sejam os da vida ou os da morte, e que podem ver os servos dos deuses da morte, os espíritos dos deuses que morrem. Pois até os deuses morrem. Neste mundo, parecido com o nosso existam deuses grandes e menores, ricos e pobres que tem família e são nobres.
***
Havia um panteão que fazia morada ao sul da cidade. Um lugar para deuses com possibilidades de decisões que afetavam toda cidade. Eles moravam em um templo de luxo imenso, onde vários andares eram preenchidos de ego e adoração. Era um panteão familiar de aparências de fachada para a deidade, que tinha que vê-los como perfeitos e sempre felizes, como se os males dos mundos não os afetasse. Este panteão era formado pelo deus criador que cuidava dos assuntos de política divina, pela sua dama senhora das jóias e da sorte e por seus filhos, que há muito se desventuravam nos entremeios do mundo com a sorte da mãe e os amigos influentes do pai. Saindo sempre ilesos de suas empreitadas na vida. Mas a história que vou contar é sobre um humano de estimação chamado Mingau, que era tido como o novo filho da deusa, "o divininho da mamãe", como ela o chamava. Era um hominídeo novo devia ter uns 1 anos na idade divina e aproximadamente 14 anos na idade dos humanos, ele fora comprado na loja de animais eletrônicos pois por sorte tinha pedgree facilmente perceptível por sua cor branquinha como o leite e os olhos azulados como a paz. Mingau morava neste templo e tinha uma caminha só sua. Sua dona o alimentava com pequenos animais como frangos ratos, rãs, porquinhos e ocasionalmente ele comia fast food. Era um bom animal de estimação. Nunca havia saído do templo. Preferia ver mortes na tv e brincar com sua comida. Enquanto a deusa passava pela sala do templo ela viu Mingau brincando com os olhos fechados e disse aos grande deus: "olha que belo Mingau sonhando, deve estar a imaginar que está a caçar algum rato" Ela quando ele sorriu. Naquela noite Mingau acordou com uma pancada seca na janela do saguão, havia um homem na janela, ele era negro e tinha pelagem não aparada, parecia mais magro que os gatos que Mingau vira na tv para homens 'Hx' ele parecia abatido e cansado Mingau não conseguiu imaginar como ele tinha conseguido subir até lá. Ela pediu para entrar e chovia muito lá fora. Como sua dona não estava em casa ele subiu pela janela o a humana falou "é hoje, ela estará lá hoje a noite, você vem?". Mingau disse a ela : Não sei como sair todas as janelas estão fechadas e não falo a língua dos deuses para destrava a senha". A humana esticou o braço e apontou o teto do templo dizendo: "Há uma saída pelo teto,venha rápido". Mingau correu pelas escadas do templo saiu no alçapão do reserva tório de água e desceu por uma árvore imensa no lado do templo, pensou que teria que subir tudo aquilo novamente quando foi chamado outro humano acima do muro.Mingau era sempre o último da fila de humanos que corria pela noite para chegar no lugar do encontro. Mingau, sendo o mais novo e o mais inocente, se achava no direito de interpelar os outros humanos que seguiam pelos cantos das ruas: "porque vocês vão vê-la?" ele perguntava :"porque precisamos" eles diziam que "precisavam ouvi-la", que "tinham que ouvil- la". Depois de caminhar por alguns minutos Mingau e o grupo de humanos que partiram do templo chegaram num tipo de cemitério, que não não tinha lápides grandiosas para guardar os deuses, que não tinham capelas de oração nem estátuas grandiosas das divindades. Ao invés disso haviam pequenas lápides redondas com esculturas de humanos com lãs de pedra em suas mãos estátuas de humanos dilacerados e deformados, estátuas e lápides de "bons humanos", de acordo com suas inscrições. Via- se a humana no alto de uma colina prostrada sob o luar, era antiga, devia ter mais de menos duas eternidades, contando pelas idades dos deuses, e tinha marcas no corpo, marcas de aviso, de histórias e cicatrizes que ela exaltava. Mingau chegou até a pensar:"quem iria querer esta humana como animal de estimação?" mas logo percebeu que ela há muito não sentia um afago e o mundo doía nela, por onde ela passava. Mingau percebeu que ela houvera feito uma escolha. "Boa noite meus filhos", realmente, sua voz lembrava a voz de todas as mães e avós do mundo. "obrigado por terem vindo" Só que com um gostinho de dor e tarde de chuva torrencial... E quando ela começou a falar todos os gatos ficaram pardos cobertos pela noite que saia dos olhos vermelhos dela. "Irmãos e irmãs, boa caçada", "obrigado por terem vindo. Espero que depois de hoje minhas palavras possam ser libertadoras para vocês", então:Ela contou sua história.
***
"Há muitas e muitas luas eu, vivia com um panteão famílias no norte do pais, eu era considerada humana de pedigree vivia no luxo e no conforto, comia muito melhor até do que alguns deuses menores e achava que eles tinham amor por min, eles me alimentavam quando eu precisava, me abraçavam quando precisava e me protegiam quando eu precisava. Eu era nova e não sabia a dimensão de minhas atitudes e um dia ele aparecer em minha janela, um homem. Ele me via brincar pela janela nas noites de verão. Ele não era um humano normal era mais alto mais belo e completo de nossa raça , tinha pele negra e olhos amarelos como o sol. E me entreguei a ele. Não sabia seu nome e só ouvi uma vez a sua voz, quando disse meu nome. Nosso amor era grande e pensava que seria feliz com ele. Ela continuou a falar enquanto olhava para a lua, estava ficando tarde. "Assim, do mesmo modo que ele apareceu em minha vida, ele sumiu. E deixou em meu ventre os frutos de nossa relação. Tratei de me preservar e de cuidar de min para que tivesse minha cria com saúde, meus deuses cuidaram de min e me deram mais atenção por estar grávida, eu os amei mais ainda por isso. Depois de nove meses eles nasceram, eram grandes e fortes como o pai, lindos e os deuses deram beijos e carinhos, arrumaram - nos e tiraram fotos deles, e depois os tiraram de min. Uma noite, enquanto estava dormindo os deuses familiares tiraram minhas crianças de min, eu tentei lutar, mas foi inútil, eles foram jogados abaixo de uma ponte no rio dos deuses."Visivelmente emocionada ela parou um pouco de falar e engoliu o seco."Neste momento, irmãos, nesta hora eu percebi que na verdade os deuses não se importam conosco. Eles nos tem como bichos de estimação até a hora em que não precisam mais de nós e seus poderes não funcionam conosco, hoje eu venho trazer um sonho de libertação há vocês... Logo depois que meus filhos foram assassinados, eu fugi em busca de respostas e caminhei pelas beiras e histórias do mundo e soube de atrocidades cometidas pelos deuses aos humanos das quais nós nunca imaginaríamos pensar e estes contos e lendas sempre falavam de um humano que habitava o mundo do pensar e do sonho, chamado de : O homem dos sonhos. Então filhos, de tanto procurar, pelos lugares mais improváveis eu caminhei por linhas das quais não sabia o que era verdade ou mentira, caminhei na transição entre a loucura e a sanidade, passei pelas ruas e pelos corpos das ruas até chegar no seu reino, o reino dos sonhos." Nesta hora o vento cessou e a noite abriu num céu estrelado, como se a noite quietasse para ouvir sua história... "A caminhada pelo reino das idéias foi longa, os limites da cidade encontravam um mar de pequenos esqueletos, esqueletos de deuses mortos, centenas dezenas infinitos crânios gigantes e pequenos ao mesmo tempo, se um dia se perguntaram para onde vão os deuses quando morrem lá estava à resposta, mas essa não era minha sina. No caminho para a caverna encontrei um boi, confortável alimentando os desejos abaixo de seu ventre e ele perguntou por que eu seguia aquele caminho, e eu respondi: pelo desejo de vingança, e pelo sentimento de saudade de meus filhos. Na descida da caverna encontrei um leão, que guardava o coração e o conforto dos humanos, ele me perguntou por que eu seguia aquele caminho, e eu respondi: era pelo amor aos meu filhos e para acalmar meu coração. Na Entrada da caverna encontrei a águia, que voava acima dos pensamentos, dos desejos e sentimentos , e gostava de manter os pensamentos plenos, para equilibrar o conforto e o coração, e ela perguntou porque eu segui a aquele caminho, e eu respondi : pela verdade. dentro da caverna encontrei ele. Grandioso e imponente, um homem pálido de olhos vermelhos, um manto cobria-lhe as partes e seus olhos parecias feitos de sangue ele disse: Eu não sei o motivo de sua vinda, mas posso te contar uma história.
"Há muito tempo, há muitos e muitos anos, quando a terra ainda era misteriosa, regida por regras que não tinham pensamento, quando a mente e a fé ainda não existiam e o sonho era jovem, os humanos reinavam solenes na existência, eles eram maiores do que são agora e os deuses pequenos, dependiam deles para existir e sobreviver, os deuses viviam escondidos e com medo nas matas e vocês brincavam de pegar e enforcar com eles. Quando aumentavam muito de população vocês os caçavam e os devoravam nas planícies. Mas um dia Deus despertou para a verdade e reuniu o máximo de deuses que pode numa colina e pediu aos deuses que sonhassem e naquele dia mil deuses sonharam e tudo ficou como sempre esteve hoje. Entenda, isso ocorreu antes de vocês reinarem e antes deles existirem, isso sempre aconteceu em alguma parte do tempo, ou da minha história antes de tudo pois eles sonharam. Todos devemos voltar a caverna para libertar os outros que estão nela, então leve o sonho novamente aos humanos o sonho pode ter mudado tudo novamente, isso é como será, não como devia ser"
***
Então irmãos sonhem como nunca sonharam antes, vão para as suas casas e becos pensando no que eu lhes disse sabendo que o sonho de mil humanos pode nos libertar.
***
Mingau chegou a casa cansado e foi logo deitar na caminha, havia comida no leito. Ao chegarem, os deuses viram o pequeno humano dormindo, entretido em sonhos, riscando o ar com as garras do imaginário e os deuses disseram "olha que bonito o Mingau sonhando, deve estar se imaginando caçando um rato..."

2 comentários: