segunda-feira, 26 de abril de 2010

Há mais poesia num Homem Bomba do que numa declaração de amor

Fora a ideia grotesca de explodir pessoas desconhecidas, queimar outras tantas e traumatizar outras muitas tantas, temo dizer que acho o homem bomba um ser profundamente poético. Principalmente por não ter a coragem de fazer igual e de não ter convicções. Sou um simples quase cristão, patético, pseudo-intelectual com dificuldades de assumir minha posição social. Acho difícil acreditar em quase tudo. Acredito na loucura. Acredito no ápice extremo da loucura; A completa falta de sentido e a maior força de vontade imaginável: Se explodir por uma convicção.

Ser levado por uma crença tão potente que faz subverter o instinto mais primário, o da sobrevivência. Acreditar que esse mundo é só esse mundo. Acreditar que esse mundo e essa vida são pouca coisa, quase nada. É Ter certeza absoluta inquestionável de que há outro lugar melhor. É acreditar que essa é a verdade e o único caminho bom. É desprezar veementemente o diferente, o impuro, o ignorante. E poder explodir sem medo e sem remorso a si e aos outros. Aceitar-se aos pedaços sabendo que não se é inteiro enquanto matéria.

Imagino como deve ser ter uma explosão como gozo divino de destino comprido. Uma razão de vida. Uma razão de morte. Uma ordem que de uma maneira bizarra faz sentido. Ser extremista convicto. Acreditar com certeza. Como deve ser belo não ter dúvidas, não depender da razão. Ter fé.

Diante dessa comparação vejo como é triste uma vida burocrática, uma morte acidental, vascular. Não ver sentido na vida, não ter ética, não ter moral, não ter fé. Ter a vida como um mero acaso. Um espirro, uma trepada, um acidente, um não aborto. Viver em prol do que? A gente realmente acredita em Adão e Eva? O próprio livre-arbítrio deixa a gente um pouco desnorteado. Até que ponto realmente existe amor? Onde estão as linhas do cotidiano, do conforto, da carência, das obrigações?

Acredito mais em paixões do que amores. A paixão é a intensidade cega. O amor é comodismo. A paixão é roubar, matar, morrer. A paixão é totalitária, extremista, violenta, indubitável e incontrolável. Ela é todos os sintomas de um fundamentalista, de um louco, de um homem bomba. Uma paixão é maior do que a vida. Paixão é Guerra.

A paixão busca a satisfação, não o bem. A paixão é imediata, intensa e verdadeira. O amor é político, é ceder, é negociar, é longo prazo. Nessa hora, tenho que assumir e citar que “em longo prazo estaremos todos mortos”.

Não gostaria de morrer explodido por um homem bomba, nem me satisfaço com a morte alheia. Mas não nego que vivemos num mundo tão apático, absurdo, horroroso e fodido que tenho poucas dúvidas em qual morte é mais digna e poética. Morrer de gordo ou por uma convicção.

Tudo é vazio. Nada faz sentido. Não existe Deus. Não existe destino. Não existe amor. O mundo é inventado. A liberdade é um mito. Se eu não morrer por acidente, morro de gordo, de velho ou de podre.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Terra erra, Marte arte

O poeta desconhecido declamava um novo e raivoso poema enquanto a plateia clamava por uma releitura de Olavo Bilac. Os ânimos estavam naturalmente centrados nos gigantes do passado e nos egos do presente. Cada um ludibriando o próprio. Eram listas de quem conhecia quem, de quem tinha o quê, das grandiosidades de cada umbigo. Ideias não eram trocadas, conversas não eram diálogos, ouvidos eram pinicos.

Podia-se dizer que era uma festa de pessoas ilustres, raras e super poderosas.Um rapaz se dava o ar de Deus enquanto aureava o reto dizendo que não errava. Outro dizia negar apresentações ao papa por não querer cansar a voz. Tinha até um Messias, que por medo de ser taxado de imaculado, não se revelou ao público como o salvador.

Quando a banda desconhecida subiu para mostrar sua música, não se espantou com o oposto do interesse misturado com o oposto do afeto. Enquanto eles tocavam algo levemente dissonante e cantavam uma letra levemente singular, eram ovacionados por gritos do estilo “toca Raul”, porém variando entre nomes de compositores desde a renascença até a década de 70 com safas exceções de 80 e 90.

O sentimento que pairava era de que ninguém prestava. Fora si, não havia mais criadores nem criaturas que merecessem respeito e atenção. O lado íntimo da inspiração virou um afirmativo chulo embebido no vago status de ser artista. Era o pé de guerra mais glamoroso. A troca de farpas mais ilustre. A alfinetada mais fingida. Um lugar onde sim era não e um sorriso não era um sorriso.

Um pintor desconhecido pendurava suas últimas criações. Outros pintores desconhecidos derramavam em um não acidente o conteúdo de seus copos nas telas afirmando co-autoria, plena autoria ou pior, diziam que os borrões não eram deles nem de ninguém ali, senão de Jackson Pollock ou Van Gogh ou outro não presente e famoso. Os elogios eram embriagantes.A presença dos ausentes era uma afirmativa de poder e influência inegável. Fora as difamações, comentários oportunos e fofocas, os ausentes e falecidos eram explicitamente adorados. Eram pessoas belas, boas, bacanas, bem humoradas... Só às vezes eram ressaltadas como babacas inescrutáveis, bastardos ingratos e biltres incuráveis. O básico.

O Ator desconhecido percebendo onde estava e com quem estava, falou que faria um texto de parceria entre Shakespeare e Brecht (único e raro). Todos se calaram e se estarreceram com tamanha novidade. Alguém tentou fazer as contas, mas ninguém sabia quando cada um tinha nascido. Acreditaram. O Ator deitou e rolou em cima da plateia. Apontou dedos, explicitou crueldades, fez o mais culpado rir e o mais inocente se chocar. Foi lindo. Mais poesia que o poeta, mais música que o músico, mais pintura que o pintor e muito além da própria atuação. A plateia aplaudiu insandecidamente. Todos concordavam que Shakespeare e Brecht foram visionários ao perceber como o homem tende a ser egocentrado e cruel, ao mesmo tempo em que concordaram que o único problema da apresentação foi o ator.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O peso do papel em branco

O papel em branco...

Escrever é uma coisa estranha. Usar das palavras para comunicar exige uma grande concentração e foco nas letras; porém, também é preciso divagar em pensamentos para referenciar o que está sendo escrito. Nada surge do nada. E, antes da escrita, há a tortura do papel em branco, sem nada...

No meu caso, como nasci na era dos sedentários da internet, é a página do Word em branco. Palavras surgem e somem, contextos aparecem e desaparecem, referências nascem e findam, subitamente. Agora entendo porquê professores e mamãe dizem que estudar muito ajuda a organizar as ideias na hora de escrever, ajuda mesmo.

Volto-me a focar no texto. No Word, o cursor sobre a página branca me aponta que não escrevi nada. Pisca, pisca, pisca, pisca novamente. Cada vez que pisca, é uma lembrança de que não comecei. 

Escrever é uma ânsia. Após começar as primeiras letras, mesmo que não sejam definitivas, sou tomado por uma vontade inexplicável de acabar de escrever. Não consigo começar um texto e terminar no dia seguinte, terminar horas depois já é uma tortura. Vá entender.

Todos vamos morrer. O mais religioso homem conformado com a ideia de uma vida eterna sabe que vai morrer, e fica, no mínimo, ressentido. Escrever é um jeito de tirar esse peso da morte, de criar algo que vá sobreviver ao tempo, um pedaço de você que não findará ao fim da vida.

Lutar contra esse papel em branco, essa caixa misteriosa, é um dever complicado. Por isso sustento que o escritor é deveras quixotesco. Nós sempre esperamos escrever algo bombástico, revolucionário, inquiridor, chocante ou, pelo menos, curioso. Nada problemático, visto que disse que a escrita é um jeito de sobreviver à morte, verdadeira religião.

Não satisfeito em achar uma tremenda dificuldade começar um texto, só quem se aventura pelo universo dos símbolos escritos entende o sofrimento para finalizar sua obra. Sempre fica aquela sensação irrisória, mas insistente, de que não está bom. Não encontro ser mais autocrítico do que o escritor. E autocrítico pessismista, pois sempre acha que seu texto não está bom.

Mas, afirmo que escrever é como um vírus. Podemos ver que traz todo esse sofrimento e ânsia, mas cada vez mais e mais queremos escrever, nos superar, superar as críticas, superar a morte. Escrever é a vida.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dança da Solidão

Um olhar distante basta. As divagações e os devaneios vão levando a alma dilacerada para aquele lugar onde ela mais quer e mais dói estar. Lembranças, projeções. A imaginação é uma grande arma contra o bem-estar.

O tempo em que se olha para o distante, para o nada, é o tempo do mergulho para os confins de si. Onde cada caverna obscura do ser é explorada involuntariamente com a pior conseqüência; A noção da falta.

Sóbrio, ébrio, histérico, contemplativo. Qualquer comportamento é uma solução paliativa para a demolição ou preenchimento dessas lacunas que destroem o ser. Extravasar, dialogar, qualquer ação que dê o sentido de amenizar o sentimento de desconforto, tende a ser quase tão perigoso quanto o de escondê-lo e disfarçá-lo. A melhor maneira de compreender e resolver uma falta é sofrer impiedosamente por ela. Fugir da dor é uma loucura, um desrespeito com o tempo dos sentimentos. Uma saudade não pode e não deve ser esquecida. Ela deve ser vivida. Se é sentida, é importante. Segurar o choro é uma violência. Ele é o auge, é quando o corpo transborda, quando fisicamente bota pra fora que sente, que é vivo, que é serio. O choro é da maior importância. É sempre bom lembrar que um sorriso é fácil dissimular. O sorriso é muscular. Controlável. Já o choro (e a gargalhada) são involuntários ao ponto do desespero. Quando se começa, não se sabe quando irá parar. E esta é a beleza de se permitir sentir. Da não censura dos impulsos. O choro é quando percebemos nossos próprios sentimentos. É uma constatação.

A vida já é inexplicável o suficiente. Não deveríamos complicá-la mais nos ignorando. Nós temos nosso tempo; Tempo de processar e entender o que aconteceu e o que está acontecendo. Existe a beleza da contemplação desiludida; de entender o que deu errado, de se entender como falível, de estar só, de poder ter a solidão como uma recorrente companhia. Deve-se lembrar de que a idéia de que nascemos para ser feliz é um veneno contra a maturação pessoal. Nascemos para viver. A partir daí, lidamos e fazemos todas as outras coisas.

Não podemos desprezar a solidão e vê-la como uma inimiga de um ser sociável, como uma desgraça da modernidade, como uma tortura... Temos que compreendê-la em si; Como artifício da vida. Ela é um momento, fruto de sentimentos que não deve ser ignorada. Ela faz parte do peso do ser. Ela é parte da vida. Necessária. Ela é uma música triste que por ser triste é evitada, por ser triste é tocada, por ser triste faz, não o corpo dançar, e sim, o fragmento não compreendido e inócuo do ser que sente e se que deixa emocionar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Ser Gordinho

Ser gordinho não é viver em uma camisa apertada: É muito mais! Ser gordinho é sorrir todos os dias por não ser escravo dos exercícios aeróbicos e rir interminavelmente por saber que seus desejos, independente das calorias, serão consumados.

Ser gordinho é ser a pessoa mais confortável para se abraçar em qualquer ocasião. É ter sempre uma balinha de sobra no bolso e usá-la para começar conversas com estranhos. É poder rir da própria pança enquanto tira sarro de outro gordinho mais gordinho. É jogar futebol na defesa, ser a melhor defesa e achar graça de magricelos enfezados gritando nomes esféricos como crítica ao seu bom desempenho na vitória de quatro a zero. Ser gordinho é viver com leveza.

Ser gordinho é ser adorado por todas as mães e todas as avós que se deliciam ao ver seus pratos sendo devorados com gosto até o último grão de arroz. É ganhar uma roupa apertada de uma tia distante e afirmar que a roupa irá alargar com o tempo. É morrer de preguiça de andar até a esquina em um afazer cotidiano, mas caminhar intermináveis quarteirões para comer um hambúrguer com os amigos em qualquer dia da semana. Ser gordinho é fazer ranking de fast-food e conseguir provar que está certo.

Ser gordinho é brincar com grávidas de quem está com mais meses, é ter mais peito do que pré-adolescentes, é ser o travesseiro perfeito para a namorada durante aquele filme em dia de frio.

É também ouvir conselhos de moderação, é sentir de vez em quando uma pontada no peito e ir para o cardiologista só para confirmar que eram gases. É saber que ovo já foi proibido e já foi liberado, que vacas comem capim e são suculentas.

Ser gordinho é querer ir para o rodízio de pizza fazer competição de quem come mais fatias sabendo que vai ganhar e acabar perdendo para um magrelo sem vergonha com metabolismo bichado. É chegar ensopado do próprio suor em casa e saber que um banho e um ar-condicionado te deixarão novinho em folha. É poder beber quatro uísques, cinco taças de champanhe e inúmeras latinhas de cerveja e não ficar tresloucado como brotinhos que só tomaram um cálice de vinho do porto.

É ter o eterno bom humor de quem tem certeza que a vida deve ser degustada, é não ter vergonha de sua barriga e saber que ela é uma afirmação de sua personalidade. É compreender que Buda também foi gordinho e por isso que ele era tão gente boa.

Ser gordinho é passar a manhã petiscando, comer dois pratos, ficar triste por não ter sobremesa e fazer as contas de quanto tempo falta para a janta. É ser estranhamente sexy e fofo ao mesmo tempo.

Ser gordinho é fazer da vida uma festa e convidar todo mundo.

Manifesto Carnívoro Social ou Porquê devo comer carne.

Dedicatória

Espero que consiga copiar o livro, Senhor Numberto

Este manifesto não dispõe de minhas ideias, mas das ideias, teorias e formulações de Alfredo Numberto da Matta a quem escrevo em memória. Um homem que encontrei na rua um dia, um amante da natureza e das plantas. Dizia-se biólogo renomado e carregava uma bolsa ecológica já há muito tempo desbotada com várias cópias de livros e textos escritos em carvão (era contra o uso de árvore para quaisquer fins).

SUMÁRIO

CAPITULO UM

Sobre o flagelo da natureza (floral e vegetal).

O homem e o vegetariano/vegan

CAPITULO DOIS

Predadores primários secundários e terciários das plantas/vegetais

CAPITULO TRÊS

Sobre os prazeres da carne e seu uso na preservação das plantas/vegetais

PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

Eu estava na hora do intervalo do estágio de advocacia às quatro da tarde descendo a Rua do Largo da Carioca observando os ambulantes e artistas de rua quando vejo Numberto, era assim que preferia ser chamado. Sobre um pedestal improvisado de um material não orgânico gritava aos berros para todos que passavam ali. Ele gritava fatos que feriam e ofendiam os transeuntes. Chamava-os de assassinos, devoradores, vegeniceiros, entre outros. Vestia uma camisa que tinha as seguintes descrições:

"hoje eu salvei 3 plantas

•comi Bacon no café da manhã

•comi frango no almoço

•comi costela no jantar''

Quando li, achei que havia algo errado, algo pré-estabelecido na sociedade que era o seguinte pensamento: Vegetais são saudáveis e carnes em geral são nocivas. Alberto não pensava assim. Fiquei ouvindo suas teorias parado no calor da Carioca. Perder meu horário de almoço e ouvir seus ensinamentos mudou minha vida. Eis como foi dito:

CAPÍTULO UM

O Flagelo da Natureza (Floral e Vegetal)

[Fragmentos]

"Como podemos tratar tão mal o planeta que nos acolheu com tanto carinho? Como correspondemos aos cafunés de uma mãe? Cortando seus braços e ameaçando-a com uma tesoura? As plantas existiram antes do homem e continuarão depois dele. Nós, percebendo o poder da natureza a excluímos de nossas cidades. Conhecem as floriculturas? Estes escravocratas florais negociam, trocam e vendem pedaços de natureza para que o ser humano se sinta em meio da natureza mesmo na cidade."a cidade é um modo de excluir a natureza".

"Já não basta toda a poluição em que o mundo está imerso? Já não basta o genocídio nos campos de concentração na Amazônia? Milhares de árvores morrem todos os dias e suas vozes não podem ser ouvidas, pois nossa sensibilidade se extinguiu quando decidimos matar nossa mãe".

"Poucos de vocês sabem, mas para conseguir os resultados de seus remédios naturais os chamados cientistas fazem várias experiências com as plantas, cortam-nas, submetem a calor, frio, aridez extrema. Experimentam várias soluções químicas há fim de conseguir resultados laboratoriais. Um caso pouco conhecido é o das industrias do bronzeador Cenoura & Bronze descobri em minhas investigações que eles REALMENTE utilizavam cenouras para a fabricação de seus bronzeadores e para conseguirem os fatores 30/60/80 e assim por diante, expunham os vegetais a soluções gasosas e liquidas de bronze fundido e chumbo também. Se fosse seu filho jogado em bronze fervente qual seria seu sentimento com relação a isso? (Nesta hora algumas pessoas foram embora e outras responderam palhaçadas) Como a TERRA se sente com relação há isso? Muitos de vocês reproduzem o que a GLOBO diz, pensando que estão corretos em suas convicções diárias no que diz respeito as plantas e vegetais, mas lhes afirmo: Elas podem sentir o que vocês fazem com elas."(agora tomando um aspecto sombrio)[nota do autor]E você nem imagina o que elas pensam sobre VOCÊ !!!"

(Neste momento, ele poderia ter escolhido qualquer pessoa que estava ali. Eram quatro pessoas. Três mulheres e eu. Até hoje me pergunto como seria minha vida se ele não tivesse apontado para mim...) [nota do autor]

"Existem corporações especializadas na destruição das plantas e dos vegetais da nossa mãe TERRA, os supermercados apreendem os vegetais e os mantém em prateleiras mínimas, onde se quer podem respirar. Sem falar no transporte dos mesmos, realizados em caixas de madeiras cheias de farpas. Como facas cortando seu corpo cada lombada ou buraco na estrada. Comercializam-nas em grande escala, esquecendo que os locais de plantio estão acabando, já que eles mesmo estão os queimando e desmatando. As corporações fazem experiências genéticas com os vegetais e as transformam em monstros perante a natureza, estes vegetais transgênicos não serão reconhecidos pela terra em seu fim, condenadas a vagar pelas bocas da humanidade. As Flores, retiradas do seio do planeta são restritas aos caprichos de idosos e casais enamorados que "cuidam" das plantas em vasos (leia-se jaulas) ou chacinam as rosas em buquês (ramalhetes) de flores. Os chefes das empreiteiras do lucrativo comércio de plantas e vegetais são as pessoas que se passam por protetoras da natureza. Os vegetarianos."

(nesta hora ele agrupou-os em vários níveis e subgrupos, como ele estava falando tentar esquematizar da melhor forma possível) [nota do autor]

"Em uma de minhas pesquisas, espionei as sociedades secretas que exploram a natureza [Sociedades Herméticas Naturais], elas se dividem em círculos de conhecimento e ódio às plantas baseado inteiramente na gastronomia. Seus grupos são os seguintes:

1. Ovolactovegetariano {aprendiz}

Iniciante na Ordem de destruição da natureza. Neste estágio o vegetariano "escolhe" por não comer mais carne, mais como ainda esta "preso" a velhos conceitos, segundo eles, ainda pode comer ovos, laticínios e mel. Começam a aprender os princípios de que a carne deve sobreviver para devorar o vegetal e assim acabar com a natureza.

2. Lactovegetariano {Zelador das carnes}

Neste estágio o vegetariano aprende a importância da carne (leia-se animais devoradores de vegetais) para o fim do verde. Aprende como administrar uma planta, fazendo, de forma que possa retirar todo o nutriente da terra e ainda direcionar o gado para que ele possa acabar com outras plantações. Nesta parte começam os engajamentos todos devem fazer parte de uma ONG de defesa dos animais, como fachada para a destruição da flora. Não comem carne nem ovos, pois aprendem que muitos animais onívoros alimentam-se de frutas.

2.1 Ovovegetariano {Flagelo das plantas}

Neste estágio, ele entrega-se totalmente a matança dos vegetais e das plantas, participa de orgias de plantas e sexo, pepinos e drogas (derivadas de floras diversas). Começa a apreciação de vegetais raros e trabalha em pesquisa e extinção de espécimes raras. Também tem lições de como fazer queimadas e criar pragas para as plantações, começam as medidas mais radicais como filiação ao Greenpeace, pratica atos de terrorismo aos matadouros, torturas e cria métodos de sofrimento para as plantas. Um exemplo disso foi Masato Kioji Ham, criador do bonsai que cultiva árvores em bandeias e nunca, jamais, ponderam sair de lá. Se saírem, morrem. Neste estágio não comem carne nem laticínios

3. Vegetariano Estrito {Senhor das plantas e dos vegetais}

Quando chega neste estágio o vegetariano não se alimenta de derivado de animal algum, seja laticínio, ovos, mel e carne é claro. Compreende o papel de cada animal para a destruição maior. Já praticou várias atrocidades com a natureza. Começa a se retirar da sociedade, promove ações de repercussão mundial em prol do desmatamento, vira chefe de uma corporação ou ONG de defesa dos animais e já começa a ensinar outros aprendizes. É visto poucas vezes, mais quando aparece, sabe-se que grandes chacinas florais e vegetais vão acontecer. Escrevem teorias éticas, religiosas e econômicas, postam seus escritos na Wikipédia para obterem mais aprendizes.

(tomei a liberdade de pesquisar sobre a categoria 3 e descobri algumas personalidades nomeadas Senhores das Plantas e dos Vegetais [ http://migre.me/w9ul ] ao longo da história da humanidade)

*. Vegan {Mestre Secreto da Seiva Negra}

Este é o ultimo estágio de um vegetariano. Não se sabe suas motivações, nem seus planos sabe-se que Mestres DeRose se auto intitula como tal.

CAPÍTULO DOIS

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eu só queria um pouco de carinho

Um pouco, só um pouco. Nada demais. Um cafuné? De uma mulher? Um abraço? De leve? De lado... Pode ser. Vale a pena. Cócegas com penas? Sim, vale toda a pena! Um riso meu por outro sorriso? Uma brincadeira sem compromisso, uma dança na sala de aula, um giro no passeio público, um banho de bottled water, cantar pela madrugada? É bom como dia quente e água gelada! Como eu queria só um pouco uma vizinha descolada! Para de vez em quando acompanhá-la, e quem sabe, ser acompanhado... Não que eu queira estar apaixonado, não é isso. Eu só quero alguém do lado. Pro domingo! Pro carinho! Pra mim, quando sozinho... Brincar de medir pés e mãos, tamanhos de braços, apostar corrida sem amarrar os cadarços, cair sem jeito na grama, na lama, na areia... Brincar de pular onda, levar caixote, receber um cheiro no cangote. Como seria bom receber um pouco de carinho! Andar na rua e receber um bom dia de um estranho, ser bem atendido no banco, ganhar um bolo de uma tia, cinco reais de uma avó, um abraço espontâneo de uma sobrinha... É tão difícil hoje em dia!

Um pouco é tão bastante! É tão de graça! Não dá trabalho... Um olhar às vezes basta. Uma risada de quem acha graça de uma coisa boba, uma coisa nada. Até é carinho aturar uma coisa chata e assumir que é chata, mas aguentá-la. Carinho de fazer pipoca, carinho. Dar um cigarro ou arrancá-lo. Sentar do lado. Um beijo roubado. Uma mensagem em um papel cortado bem pequenininho. Arrumar um fio de cabelo. Ficar fazendo hora o dia inteiro. Mostrar aquela música boa, estar junto por estar à toa, chorar aquela lágrima guardada, dar razões de estar amargurada. Dividir medos! Falar segredos, contar histórias, almoçar por meia hora. Receber só um pouco de carinho... Só um pouquinho. Só ser coberto por uma coberta extra em noite de frio. Só falar boa noite ou escutar boa noite. Não viver num vazio. Pois triste mesmo é viver sozinho.

É tão triste acordar sozinho, se ver sozinho, fazer café pra um, comer olhando para a parede ou para a televisão, não poder comentar o horror da televisão, nem reclamar da chuva. Ter que suportar o cotidiano nos próprios pensamentos. Ver a cama desarrumada e não ter quem reclamar dela assim. Sair com qualquer roupa sem ser censurado, almoçar um salgado, jantar comida de sábado passado. Não poder contar como foi o dia, ter que se ocupar esperando o próximo dia, inventar razões para alegria, sonhar em ter companhia... Escrever para esquecer que está só. Escrever para passar o tempo sem sentir dó de si. Eu só queria um pouco de carinho para esquecer um pouco do nada que é estar sozinho. Eu só queria um pouco de carinho.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um breve reencontro

Bom dia! – disse ela, com as bochechas coradas de suor e vergonha. Suor por ter corrido até o ponto de encontro. Vergonha... Vergonha não.

Nervosismo de estar de novo em frente a um quase fantasma, quase mito, quase amor platônico e inteiro par.

E aí? Quer fazer o que? – disse ele, com um sorriso Mona Lisa de canto de boca e as mãos no bolso, se segurando pra não jogá-la na parede em plena praça pública.

O que você quiser. – na verdade, ela estava pensando: Vamos ao cinema e expulsar as pessoas de dentro e ver um filme sozinhos! E vamos comer pizza, de todos os sabores possíveis e vamos nadar nus na praia às 5 da manhã e vamos ficar horas sem conseguir desgrudar os lábios um do outro?

A gente pode ir andando até resolver – na verdade, ele estava pensando nas curvas que há muito não via, nem tocava. Nem sabia onde as pintas e as marcas dos machucados estavam mais e mal podia esperar para decorá-los.

Andaram os dois, com risadinhas no meio das frases. Pausas atropeladas. Aqueles assuntos que surgem do nada e não vão a lugar nenhum. Não se olhavam nos olhos por muito tempo.

Andaram até cansar dos subterfúgios.

Ela parou em frente a um prédio rebuscado, a 4 quarteirões de sua casa. Segurou-o nos braços. Olhou em seus olhos por segundos que não se contam, foi sorrindo à medida que percebia o que estava acontecendo. Ele estava ali, na sua frente, de verdade. No meio de uma rua por onde pessoas passavam, fofocavam, saíam do trabalho, falavam no celular. Mas essas pessoas não existiam.

Aproximou-se de seu rosto, fechou os olhos para sentir melhor, escutou sua respiração e...

Estava sendo beijada. Um beijo doce, mas impaciente, tenro, mas com tendências violentas. Apostaram corrida até sua casa. Ele chegou primeiro. Estava esperando-a na portaria. Aquela, rosa, mas que foi reformada.

Passaram pelos corredores kubrikianos, subiram o elevador, em silêncio cúmplice. Ela apertou sua mão e o puxou para o apartamento. A porta se fechou e lá dentro, nossa imaginação continuou.

Quando deitados, um ao lado do outro, cansados, exaustos(!), puderam conversar com aquela intimidade, aquela liberdade destemida dos relaxados, dos destencionados, dos bobos sorridentes despreocupados.

domingo, 4 de abril de 2010

O vegetariano que comeu um peixe

O ser humano vale a pena, sempre repetiu o jovem. Esse era o principal pensamento que lhe passava antes de partir em sua viagem sem rumo e sem destino pelo Brasil. A incerteza de tudo que estava por vir era, talvez, o principal combustível para a aventura. A vontade de conhecer o mundo e os caminhos do mundo e as pessoas do mundo por meio do acaso faziam toda aquela experiência ganhar uma proporção mística de leveza e de destino que poucas pessoas seriam capazes de experimentar. Talvez essa tenha sido uma grande epopéia pela liberdade. Na estrada, no distante, no desconhecido, não se tem casa, não se tem nome, não se tem tudo. Tens a ti e a ti somente, impulsionado por um espírito inquieto de descoberta e de contínua caminhada rumo ao desconhecido.

Não cabe à minha pessoa contar toda sua trajetória, pois não a sei. Tenho a certeza de que ela foi repleta acontecimentos raros, encontros inusitados, azares sortudos... Enfim. Não cabe neste texto toda sua história... Cabe uma passagem, Uma grande passagem de uma noite. Um momento que deveria ser brindado por todos que prezam pelo o que é pouco, mas que é muito e quase tão grande que quase não caberia em um simples texto de homenagem como esse.

Por azar, o rapaz não pôde pegar o ônibus da noite para a próxima cidade. Sua carona havia quebrado no meio do caminho para a rodoviária. Quando ela estava concertada, era tarde demais. Seu dinheiro era contado e exato. Não havia meio de conseguir um quarto em uma pousada. Sua única maneira de ganhar dinheiro era tocando seu violão nas praças durante o dia. Ele estava fadado ao aconchego de um banco no largo da cidade. Esse jovem era uma figura de estatura e valente. Se fazia valer pela aparência de mal encarado, perfeita para bandidos e para afastar os mesmos. Deixava seu cabelo longo solto e sempre agia como se estivesse em pleno controle de toda situação, de forma que charlatões não teriam meio de tirar proveito dele.

Enquanto se preparava para uma noite ao relento, rapaz foi abordado por uma velha senhora pobre que, em um tom quase impositivo e extremamente carinhoso o fez entender que para ele não havia meio de dormir vulnerável às friagens. A casa dela, por mais simples que fosse, tinha um espaço livre que deveria ser ocupada por ele. Sem opção ele aceitou com um sorriso cordial o convite e a acompanhou até sua moradia. No caminho, ela explicou os malefícios de uma noite no sereno. Em sua casa, ela indicou a cama do rapaz e falou que tudo que ela poderia oferecer a ele era peixe com farinha e que ele tinha que comer tudo, pois parecia abatido e cansado. Precisava de comida. Ela preparou seu prato enquanto ele organizava seus pertences. Ela não sabia, mas ele não comia peixe. Ele não sabia comer peixe, conhecia apenas os perigos das espinhas. Era vegetariano. Não comia carne alguma. Não gostava. Não lhe assentava bem. Era contra sua índole, sua ideologia, seus hábitos... Era contra ele. Mas naquele dia, naquela casa, naquele caso, não havia meio de negar. Ela era o amor cego de um ser humano para com o outro. A comida era mais do que a comida, a casa era mais do que a casa. Ele não torceu o nariz, nem comentou sua dificuldade de não engolir as espinhas. O jovem raspou o prato e com um sorriso além daquele de estar saciado agradeceu pela refeição. A velha imediatamente o mandou para a cama para dormir logo e descansar de vez. Ele quis ainda tocar uma música para agradecer o cuidado, mas era tarde e ela fez questão de que não.

No dia seguinte, em despedida, ele a presenteou com itens do mercado local que estavam em falta em sua casa. Ela marejou seus olhos áridos de vida árdua e falou “vá com Deus meu filho” e ele já um pouco distante lançou um tchau alegre e foi em direção a rodoviária continuar o caminho sem fim, sem destino e sem rumo que era sua descoberta do Brasil. Quando o dia de voltar chegou, e sua casa estava a poucos metros de seus pés, novamente o pensamento repetia e se confirmava em sua cabeça: “O ser humano vale a pena”.