sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dança da Solidão

Um olhar distante basta. As divagações e os devaneios vão levando a alma dilacerada para aquele lugar onde ela mais quer e mais dói estar. Lembranças, projeções. A imaginação é uma grande arma contra o bem-estar.

O tempo em que se olha para o distante, para o nada, é o tempo do mergulho para os confins de si. Onde cada caverna obscura do ser é explorada involuntariamente com a pior conseqüência; A noção da falta.

Sóbrio, ébrio, histérico, contemplativo. Qualquer comportamento é uma solução paliativa para a demolição ou preenchimento dessas lacunas que destroem o ser. Extravasar, dialogar, qualquer ação que dê o sentido de amenizar o sentimento de desconforto, tende a ser quase tão perigoso quanto o de escondê-lo e disfarçá-lo. A melhor maneira de compreender e resolver uma falta é sofrer impiedosamente por ela. Fugir da dor é uma loucura, um desrespeito com o tempo dos sentimentos. Uma saudade não pode e não deve ser esquecida. Ela deve ser vivida. Se é sentida, é importante. Segurar o choro é uma violência. Ele é o auge, é quando o corpo transborda, quando fisicamente bota pra fora que sente, que é vivo, que é serio. O choro é da maior importância. É sempre bom lembrar que um sorriso é fácil dissimular. O sorriso é muscular. Controlável. Já o choro (e a gargalhada) são involuntários ao ponto do desespero. Quando se começa, não se sabe quando irá parar. E esta é a beleza de se permitir sentir. Da não censura dos impulsos. O choro é quando percebemos nossos próprios sentimentos. É uma constatação.

A vida já é inexplicável o suficiente. Não deveríamos complicá-la mais nos ignorando. Nós temos nosso tempo; Tempo de processar e entender o que aconteceu e o que está acontecendo. Existe a beleza da contemplação desiludida; de entender o que deu errado, de se entender como falível, de estar só, de poder ter a solidão como uma recorrente companhia. Deve-se lembrar de que a idéia de que nascemos para ser feliz é um veneno contra a maturação pessoal. Nascemos para viver. A partir daí, lidamos e fazemos todas as outras coisas.

Não podemos desprezar a solidão e vê-la como uma inimiga de um ser sociável, como uma desgraça da modernidade, como uma tortura... Temos que compreendê-la em si; Como artifício da vida. Ela é um momento, fruto de sentimentos que não deve ser ignorada. Ela faz parte do peso do ser. Ela é parte da vida. Necessária. Ela é uma música triste que por ser triste é evitada, por ser triste é tocada, por ser triste faz, não o corpo dançar, e sim, o fragmento não compreendido e inócuo do ser que sente e se que deixa emocionar.

2 comentários:

  1. Respeitosamente discordo... se eu me deixo levar pelas minhas mágoas, tristezas, decepções dessa vida eu não me levanto nunca mais. Olhar pra frente, deixar o passado pra trás, pra mim é a unica forma de levantar um dia após o outro.

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  2. "E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
    é doce herança itabirana."

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