segunda-feira, 26 de abril de 2010

Há mais poesia num Homem Bomba do que numa declaração de amor

Fora a ideia grotesca de explodir pessoas desconhecidas, queimar outras tantas e traumatizar outras muitas tantas, temo dizer que acho o homem bomba um ser profundamente poético. Principalmente por não ter a coragem de fazer igual e de não ter convicções. Sou um simples quase cristão, patético, pseudo-intelectual com dificuldades de assumir minha posição social. Acho difícil acreditar em quase tudo. Acredito na loucura. Acredito no ápice extremo da loucura; A completa falta de sentido e a maior força de vontade imaginável: Se explodir por uma convicção.

Ser levado por uma crença tão potente que faz subverter o instinto mais primário, o da sobrevivência. Acreditar que esse mundo é só esse mundo. Acreditar que esse mundo e essa vida são pouca coisa, quase nada. É Ter certeza absoluta inquestionável de que há outro lugar melhor. É acreditar que essa é a verdade e o único caminho bom. É desprezar veementemente o diferente, o impuro, o ignorante. E poder explodir sem medo e sem remorso a si e aos outros. Aceitar-se aos pedaços sabendo que não se é inteiro enquanto matéria.

Imagino como deve ser ter uma explosão como gozo divino de destino comprido. Uma razão de vida. Uma razão de morte. Uma ordem que de uma maneira bizarra faz sentido. Ser extremista convicto. Acreditar com certeza. Como deve ser belo não ter dúvidas, não depender da razão. Ter fé.

Diante dessa comparação vejo como é triste uma vida burocrática, uma morte acidental, vascular. Não ver sentido na vida, não ter ética, não ter moral, não ter fé. Ter a vida como um mero acaso. Um espirro, uma trepada, um acidente, um não aborto. Viver em prol do que? A gente realmente acredita em Adão e Eva? O próprio livre-arbítrio deixa a gente um pouco desnorteado. Até que ponto realmente existe amor? Onde estão as linhas do cotidiano, do conforto, da carência, das obrigações?

Acredito mais em paixões do que amores. A paixão é a intensidade cega. O amor é comodismo. A paixão é roubar, matar, morrer. A paixão é totalitária, extremista, violenta, indubitável e incontrolável. Ela é todos os sintomas de um fundamentalista, de um louco, de um homem bomba. Uma paixão é maior do que a vida. Paixão é Guerra.

A paixão busca a satisfação, não o bem. A paixão é imediata, intensa e verdadeira. O amor é político, é ceder, é negociar, é longo prazo. Nessa hora, tenho que assumir e citar que “em longo prazo estaremos todos mortos”.

Não gostaria de morrer explodido por um homem bomba, nem me satisfaço com a morte alheia. Mas não nego que vivemos num mundo tão apático, absurdo, horroroso e fodido que tenho poucas dúvidas em qual morte é mais digna e poética. Morrer de gordo ou por uma convicção.

Tudo é vazio. Nada faz sentido. Não existe Deus. Não existe destino. Não existe amor. O mundo é inventado. A liberdade é um mito. Se eu não morrer por acidente, morro de gordo, de velho ou de podre.

3 comentários:

  1. magnífico, Thiago.
    As ideias Deus, amor e liberdade me remetem a figura do papai noel: "só existe se você acreditar nele". em outras palavras, bela invenção.

    Acho que, entre ter uma só verdade ou nenhuma, o melhor é ficar no campo das possibilidades. Essa vazio é pesado demais.

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